Atualizamos nossas estimativas para a Ambev após os resultados do 2T19 e nossas novas projeções macroeconômicas, com expectativa para crescimento do PIB do Brasil de 0,9% em 2019 e 2,1% em 2020, câmbio de 3,82/USD em 2019 e 3,70/USD em 2020 e um menor risco país no Brasil.
Aumentamos nosso preço alvo de R$18/ação para R$21/ação e mantemos nossa recomendação Neutra. Em termos operacionais, reconhecemos que agora parecemos ter mais pontos positivos do que negativos, frente a menores custos no final do ano, com o Brasil acelerando (ainda que de forma gradual) e as iniciativas de inovação da Ambev. No entanto, a concorrência permanece acirrada, enquanto a Ambev negocia a um múltiplo de 22x Preço/Lucro 2020, patamar justo na nossa visão, considerando a recente reavaliação dos múltiplos, que ocorreu globalmente com taxas de juros mais baixas.
Apesar de vermos potencial para contínua reclassificação dos múltiplos adiante, frente aos cortes de juros, destacamos riscos com os desafios políticos na Argentina (~9% do EBITDA) e possíveis mudanças nos benefícios fiscais do setor após uma Reforma Tributária.
Crescimento de volumes adiante seguindo visão positiva com Brasil
Estimamos um crescimento do volume de cerveja da Ambev no Brasil de 5,6% em 2019 e 3% em 2020. A Ambev tem focado em inovação e no fortalecimento de seu portfólio, com o lançamento de Beck’s, desenvolvimento da família Skol e de marcas regionais, os principais destaques recentemente. De fato, de acordo com a empresa, o crescimento no Norte e no Nordeste tem sido impulsionado por inovações que se adequam ao hábito dos consumidores e a um portfólio mais forte. Isso foi abordado não apenas pelas marcas principais, mas por marcas locais como Magnífica e Nossa, que estão apresentando um ótimo desempenho, com boas margens.
As nossas conversas com contatos da indústria corroboraram a estratégia para a boa performance e também destacaram que os recentes problemas operacionais da Heineken abriram espaço para as marcas da Ambev, especialmente por meio da Bohemia em capitais e de marcas regionais em cidades do interior. Segundo nossos contatos, a acessibilidade de marcas de alto nível por meio de melhores preços ou embalagens diferentes é fundamental para o crescimento da Ambev - as operações da Heineken começaram a ser normalizadas, mas não geraram impacto para a performance da Ambev na região ainda, enquanto nossos contatos acreditam que a estratégia de posicionamento do portfólio deve manter a performance positiva da Ambev na região.
Competição mais acirrada – Heineken também está evoluindo
Depois que a Heineken adquiriu a Brasil Kirin em 2017, ela se tornou a 2ª maior empresa do mercado, com 19% de participação, aumentado sua representatividade desde então. Acreditamos que isso resulta da mudança no perfil do consumidor e de uma estratégia bem-sucedida da empresa de se posicionar tanto no segmento de menor valor agregado (através das marcas da Kirin como Schin e Glacial), quanto no segmento premium (via cerveja puro malte Heineken).
A Heineken também está focada em crescer no Brasil e espera melhorar seu desempenho no mercado brasileiro no segundo semestre de 2019, com menores custos e forte crescimento de receita. Hoje a empresa está investindo para ampliar a distribuição de suas marcas no país, enquanto amplia sua capacidade produtiva, quase toda voltada para a marca Heineken, que é a marca que mais cresce no país, segundo o presidente da empresa.
Segundo a empresa, durante o primeiro semestre, a categoria premium registrou crescimento de dois dígitos, impulsionada pelas marcas Heineken e Devassa, com destaque também para um "forte crescimento" nas vendas da Amstel. De fato, o Google Trends mostra um crescimento significativo da Heineken em detrimento das marcas premium da Ambev.
*Os números representam o interesse de pesquisa relativo ao ponto mais alto no gráfico. Um valor de 100 é o pico de popularidade do termo. Um valor de 50 significa que o termo é metade da popularidade. Uma pontuação de 0 significa que não há dados suficientes para este termo.
Na categoria de cervejas de preços mais baixos, como Glacial, No Grau e Cintra, a Heineken informou que obteve queda de "um dígito alto" no volume de vendas no primeiro semestre, compensado por um aumento de 8% nos preços – seria um sinal de migração para cervejas mais caras no meio da pirâmide? (mais detalhes abaixo).
Segundo a Ambev, o tamanho do segmento de menor valor agregado atingiu um pico no final de 2018 e declinou 200bps no primeiro trimestre, mantendo-se estável no 2T19. Na visão da empresa, isso significa que a transição do consumo das marcas mais baratas para a faixa do meio começou a acontecer e deve ser fortalecido pela renda disponível mais alta à frente. Vemos isso como muito positivo para a Ambev, que conta com um forte portfólio de cervejas nessa faixa e, portanto, está bem posicionada para capturar esse movimento. Contudo, vale ressaltar que a recuperação da atividade ainda ocorre de forma lenta com renda disponível ainda baixa.
Entendendo o mercado de cerveja
O mercado de bebidas alcoólicas no Brasil, especialmente de cerveja, vem passando por mudanças tanto ligadas à questões de conjuntura econômica, quanto ao perfil de consumo.
A crise econômica dos últimos anos, que levou o Brasil a recessão, teve impacto direto no consumo de cerveja. Ao mesmo tempo em que houve queda no consumo, vimos uma migração dos consumidores para marcas mais baratas, reduzindo o faturamento do mercado médio – faixa na qual Ambev possui grande representatividade.
Além disso, nos últimos anos, vimos também uma mudança nos hábitos de consumo da população brasileira de modo geral. No mercado de cerveja, especificamente, o interesse dos consumidores em produtos diferentes e novidades aumentou, e o típico consumidor fiel a apenas uma marca tem revisto seus hábitos.
De certa forma, essa mudança estrutural no segmento é benéfica para a Ambev, que tem um portfólio de produtos amplo, capaz de atender aos vários perfis de consumidores, mas inovar com mais frequência virou uma necessidade das empresas.
A Ambev tem reforçado seu objetivo de expandir o premium com escala, tendo a inovação como ponto chave. Dentre as iniciativas, destaca-se (1) Lançamento de novos formatos das marcas Budweiser, Stella Artois e Corona Extra; (2) Lançamento da Beck’s e da Colorado Ribeirão Lager; e (3) Novas embalagens, identidades visuais de marca (VBI) e marcas.
Do lado do core, a diferenciação segue guiando a Ambev. Na marca Brahma e Skol, a empresa reforça a estratégia “Família”, desenvolvendo diferentes embalagens, tamanhos e tipos, ao mesmo tempo em que reforça os pilares de cada marca: Brahma - Lager clássica, Expertise em cerveja e Tradição; e Skol - Easy Drinking Lager, Drinkability e Inovação e juventude. Mais do que isso, o foco também está em impulsionar a acessibilidade de maneira inteligente, com diferentes embalagens e marcas regionais.
Quando falamos do mercado de cerveja no Brasil, ele pode ser dividido em três faixas principais: a superior, ou “premium”, com as cervejas mais caras; a faixa intermediária, ou “mainstream”; e a faixa inferior, ou “low end”, com as cervejas mais baratas.
Durante a crise econômica dos últimos anos, ao mesmo tempo em que houve queda no consumo, vimos uma migração dos consumidores para marcas mais baratas, reduzindo o faturamento do mercado médio – faixa na qual Ambev possui grande representatividade. Ou seja, muitos consumidores migrando do segmento “mainstream” para o “low end” (1).
Na visão da Ambev, com a recuperação da atividade adiante – nosso time econômico espera crescimento do PIB do Brasil de 0,9% em 2019 e 2,1% em 2020 – e com a renda disponível mais alta à frente, espera-se o movimento inverso, ou seja, uma migração do segmento “low end” para o “mainstream” (2). Vemos isso como muito positivo para a Ambev, que conta com um forte portfólio de cervejas tradicionais e, portanto, está bem posicionada para capturar esse movimento. Esse tópico será monitorado adiante.
Assista aqui o CFO Talks com Fernando Tennenbaum, CFO da Ambev
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